SIMULADO 03
TEXTO 01
O QUINZE
Mas
foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de
se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco
filhos pequenos.
O
homem não atendia.
- Não
é possível. Só se você esperar um mês. Todas as passagens que eu tenho ordem de
dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
-
Mas, meu senhor, veja que ir por terra com esse magote de meninos é uma morte!
O
homem sacudiu os ombros:
- Que
morte! Agora é que retirante tem esses luxos . . . No 77 não teve trem para
nenhum. É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser. . .
Chico
Bento foi saindo.
Na
porta, o homem ainda o consolou:
-
Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde. Imagine que tive de ceder
cinquenta passagens ao Matias Paroara, que anda agenciando rapazes solteiros
para o Acre!
Na
loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva:
-
Desgraçado! Quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres. ..
Não ajuda nem a morrer!
O
Zacarias segredou:
-
Ajudar, o governo ajuda. O preposto é que é um ratuíno. . .
Anda
vendendo as passagens a quem der mais . . .
Os
olhos do vaqueiro luziram:
- Por
isso é que ele me disse que tinha cedido cinquenta passagens ao Matias Paroara!
. . .
-
Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá . . O Paroara me disse que
pouco faltou pro custo da tarifa . . .Quase não deu interesse . . .
Chico
Bento cuspiu com a ardência do mata-bicho:
-
Cambada ladrona!
(Do
romance homônimo de Raquel de Queiroz)
1 ) Os olhos de Chico
Bento luziram de
a) revolta.
B) compreensão.
c) ironia.
d) dor.
2 ) ". . . o
governo ( . . . ) não ajuda nem a morrer!" Este desabafo revela-nos
a) religiosidade.
b) comparação.
C) ironia.
d) esperança.
3) A passagem que
melhor caracteriza uma atitude irônica, embora amarga e necessitada, é:
a ) "Só se você
esperar um mês."
b) "Mas foi em vão
. . . "
C) "Só ele, a
mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos."
d) ". . . ir por
terra com esse magote de meninos é uma morte!"
Texto 02
"A triste verdade
é que passei as férias no calçadão do Leblon, nos intervalos do novo livro que
venho penosamente perpetrando. Estou ficando cobra em calçadão, embora deva
confessar que o meu momento calçadônido mais alegre é quando, já no caminho de
volta, vislumbro o letreiro do hotel que marca a esquina da rua onde finalmente
terminarei o programa-saúde do dia. Sou, digamos, um caminhante resignado.
Depois dos 50, a gente fica igual a carro usado, é a suspensão, é a embreagem,
é o radiador, é o contraplano do rolabrequim, é o contrafarto do mesocárdio
epidítico, a falta da serotorpina folimolecular, é o que mecânicos e médicos
disseram. Aí, para conseguir ir segurando a barra, vou acatando os conselhos.
Andar é bom para mim, digo sem muita convicção a meus entediados botões, é bom
para todos."
(João Ubaldo Ribeiro, O
Estado de S. Paulo, 6/8/95)
04. No período que se
inicia em "Depois dos 50...",
o uso de termos (já existentes ou inventados) referentes a áreas diversas tem
como resultado:
a) um tom de
melancolia, pela aproximação entre um carro usado e um homem doente;
B) um efeito de ironia,
pelo uso paralelo de termos da medicina e da mecânica;
c) uma certa confusão
no espírito do leitor, devido à apresentação de termos novos e desconhecidos;
d) a invenção de uma
metalinguagem, pelo uso de termos médicos em lugar de expressões corriqueiras.
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