segunda-feira, 9 de setembro de 2013

SIMULADO 03 COM ITENS COMENTADOS




SIMULADO 03
TEXTO 01
O QUINZE

Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos.
O homem não atendia.
- Não é possível. Só se você esperar um mês. Todas as passagens que eu tenho ordem de dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
- Mas, meu senhor, veja que ir por terra com esse magote de meninos é uma morte!
O homem sacudiu os ombros:
- Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos . . . No 77 não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser. . .
Chico Bento foi saindo.
Na porta, o homem ainda o consolou:
- Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde. Imagine que tive de ceder cinquenta passagens ao Matias Paroara, que anda agenciando rapazes solteiros para o Acre!
Na loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva:
- Desgraçado! Quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres. .. Não ajuda nem a morrer!
O Zacarias segredou:
- Ajudar, o governo ajuda. O preposto é que é um ratuíno. . .
Anda vendendo as passagens a quem der mais . . .
Os olhos do vaqueiro luziram:
- Por isso é que ele me disse que tinha cedido cinquenta passagens ao Matias Paroara! . . .
- Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá . . O Paroara me disse que pouco faltou pro custo da tarifa . . .Quase não deu interesse . . .
Chico Bento cuspiu com a ardência do mata-bicho:
- Cambada ladrona!
(Do romance homônimo de Raquel de Queiroz)

1 ) Os olhos de Chico Bento luziram de
a) revolta.                                                     
B) compreensão.
c) ironia.
d) dor.

2 ) ". . . o governo ( . . . ) não ajuda nem a morrer!" Este desabafo revela-nos
a) religiosidade.
b) comparação.
C) ironia.
d) esperança.

3) A passagem que melhor caracteriza uma atitude irônica, embora amarga e necessitada, é:
a ) "Só se você esperar um mês."
b) "Mas foi em vão . . . "
C) "Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos."
d) ". . . ir por terra com esse magote de meninos é uma morte!"

Texto 02
"A triste verdade é que passei as férias no calçadão do Leblon, nos intervalos do novo livro que venho penosamente perpetrando. Estou ficando cobra em calçadão, embora deva confessar que o meu momento calçadônido mais alegre é quando, já no caminho de volta, vislumbro o letreiro do hotel que marca a esquina da rua onde finalmente terminarei o programa-saúde do dia. Sou, digamos, um caminhante resignado. Depois dos 50, a gente fica igual a carro usado, é a suspensão, é a embreagem, é o radiador, é o contraplano do rolabrequim, é o contrafarto do mesocárdio epidítico, a falta da serotorpina folimolecular, é o que mecânicos e médicos disseram. Aí, para conseguir ir segurando a barra, vou acatando os conselhos. Andar é bom para mim, digo sem muita convicção a meus entediados botões, é bom para todos."
(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 6/8/95)

04. No período que se inicia em "Depois dos 50...", o uso de termos (já existentes ou inventados) referentes a áreas diversas tem como resultado:
a) um tom de melancolia, pela aproximação entre um carro usado e um homem doente;
B) um efeito de ironia, pelo uso paralelo de termos da medicina e da mecânica;
c) uma certa confusão no espírito do leitor, devido à apresentação de termos novos e desconhecidos;
d) a invenção de uma metalinguagem, pelo uso de termos médicos em lugar de expressões corriqueiras.



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